Flávio Bastos*
Estamos, por uma questão cultural - a do sofrimento - condicionados a sentir ou a perceber na experiência humana, mais dor do que amor. No entanto, o predomínio do sofrimento não seria uma decorrência do desconhecimento em relação ao significado profundo do amor?
Meu amigo é um bipolar de nível três, considerado pela psiquiatria como o grau mais alto da bipolaridade que é um transtorno de humor que oscila entre a fase depressiva e a fase eufórica. Ele ingere, diariamente, um coquetel de comprimidos para manter-se razoavelmente equilibrado e não surtar.
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Na sua primeira crise, que exigiu internação e início de tratamento químico, ele tinha 41 anos. Passados 14 anos, a sua vida transformou-se significativamente. Não no sentido da perda como estamos, convencionalmente, acostumados a avaliar. Mas no sentido das aprendizagens adquiridas pela própria experiência, pois o diagnóstico de bipolaridade não é um atestado de sofrimento ou de incapacitação.
A sua vida mudou... é evidente! Aposentou-se prematuramente, "perdeu" muitos amigos que se afastaram e ainda teve que adaptar-se a uma nova fase em que foi forçado a administrá-la da melhor maneira possível.
No entanto, apesar do "infortúnio", das vicissitudes e do inevitável envolvimento familiar de esposa e filhos em seu drama pessoal, avalia que hoje a sua família encontra-se mais unida do que antes, porque souberam crescer com a própria experiência e aprenderam que, com o exercício do amor incondicional, podem superar obstáculos antes considerados intransponíveis.
Infortúnio, desgraça, azar... destino? Não, absolutamente, porque a vida é uma consequência de outras vidas associada às experiências atuais de peso, como os efeitos da educação transmitida na infância pelos responsáveis diretos e a liberdade de escolha proporcionada pelo livre arbítrio.
Conformismo com o sofrimento, acomodação? Não, e sim... resignação é o que tenho observado, pois o conceito de sofrimento é muito relativo se considerarmos a afirmação anterior de que a vida não é uma sequência de acontecimentos imprevisíveis e, portanto, alienados pelo fato de não sermos sujeitos da nossa própria história.
Meu amigo possui o seu sistema próprio de valores e de crenças. De nada adiantaria "forçar" uma regressão para tentar encontrar a sintonia de seu problema atual, até porque ele encontra-se em franco crescimento espiritual com a experiência bipolar. E esta sintonia na energia do amor é infinitamente superior a qualquer intervenção no sentido terapêutico.
Sou o seu terapeuta informal em que ele transfere (transferência positiva...) a confiança que não encontrou no pai ausente ou em outra figura masculina referencial de sua infância. Contudo, procuro separar as funções, ou seja, até onde vai a sólida amizade de três décadas e até onde vai a função de terapeuta informal.
O transtorno de humor bipolar, segundo o livro "Porque adoecemos - Princípio para a Medicina da Alma", é uma desarmonia comprometedora do corpo mental inferior e que depende da gravidade do desrespeito aos soberanos códigos das leis divinas. O corpo mental inferior, conforme esse livro, "se expressaria através do pensamento concreto, onde a imaginação é muito pouco solicitada. O valor das coisas dá-se pelo seu conteúdo puramente material. Uma flor é uma flor e nada mais".
E continua: "A mente é o espírito trabalhando no corpo mental inferior. É dito assim, porque o homem comum, que compõe a grande maioria da humanidade, usa muito pouco os atributos do corpo mental superior. O seu interesse, quase sempre, não vai além de sua própria pessoa, estando, especialmente, ligado aos desejos do sexo e da alimentação. Alimentar-se, para ficar forte e não adoecer; ganhar dinheiro, para possuir as coisas que lhe dão prazer; e ser bonito, para conquistar. Tudo ligado ao imediatismo da existência. Pensamento pobre e muito concreto. As abstrações da existência não são ainda percebidas. É o caso do plantador de tomates e do de flores. O primeiro planta para manter a existência, o que lhe é necessário. Mas o segundo é quem embeleza a vida, busca o essencial".
E conclui: "O corpo mental inferior tem várias propriedades extremamente importantes para o desenvolvimento do potencial divino do espírito. Há a necessidade do aprendizado vindo de fora, através dos sentidos. Esses conhecimentos formam a ante-sala do real conhecimento para expressar-se. Há que se formar um campo, um repertório, um ambiente, no qual a essência divina possa fazer-se presente, apossando-se do patrimônio herdado do Divino construtor".
A patologia mental sob o ponto de vista espiritual pode ser chamada de prova ou testagem. Podemos procurar ajuda através de recursos disponíveis como o tratamento químico, a psicoterapia e a regressão, ou mesmo a opção religiosa. No entanto, acima de quaisquer conceito ou auxílio que venha a somar em benefício do paciente, a experiência sempre será única e exclusivamente pessoal. É através dela que chegaremos a um nível de crescimento através do amor vivenciado pelas lições conscientemente assimiladas, ou permaneceremos, indefinidamente, na situação de vítima e na sintonia do sofrimento que não leva a nenhum tipo de crescimento, seja de nível pessoal ou espiritual.
No final de uma experiência traumatizante sob o ponto de vista psicológico, dependendo do "olhar", poderemos encará-la como sofrida e nos conformarmos. Mas poderemos também, resignados, avaliá-la como resultante de um processo de aprendizagens necessárias baseado na oportunidade oferecida pelo amor incondicional que está na essência da criação divina.
Tudo é uma questão de olharmos (ou não...) para dentro de nós mesmos!
* Terapeuta Psicanalista Reencarnacionista.
sábado, 6 de fevereiro de 2010
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Bacana o texto... Apenas uma correção (salvo engano)... A bipolaridade mais "grave" no contexto de diagnótico é do tipo 1... Onde ocorre episódios de depressão e mania graves (sujeitas a internação inclusive). É óbvio que "rótulos" não são muito importantes, mas é salutar ressaltar que o tratamento de um e de outro se dá de maneiras diferentes... Enfim... Sorte a todos nós, bipolares ou não. Will
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